Você prefere vender muitas unidades de uma lista de poucos produtos, ou vender de uma lista de muitos produtos, um pouco de cada um?
A prateleira finita
Os vendedores de quaisquer produtos em lojas físicas - de rua ou de shopping - tem uma limitação importante: o tamanho da loja. Para aumentar a lucratividade é preciso uma curadoria muito cuidadosa dos itens mais vendáveis para exibição na loja.
Qualquer produto encalhado, ou mesmo de venda demorada, tem um custo de permanência na loja. Esse custo é sua fração ideal do aluguel, IPTU, ar condicionado, funcionários, etc., mais o custo financeiro de ficar parado com o capital usado para comprar aquele produto.
E antes que você ache que o problema de espaço gasto na loja com produtos de baixa rotatividade é só da lojinha apertada na esquina do seu bairro, lembre-se que uma loja do Walmart tem muito mais espaço, mas aquele galpãozão custa muito mais caro e, no final das contas, também é finito.
Nessa questão da finitude da prateleira física, pense comigo, prezada leitora, prezado leitor: de todos os modelos de bicicleta existentes no mundo, quantos cabem na seção de bicicletas da maior loja do Walmart? Uma fração de uma fração de porcentagem. E uma parcela ainda menor se cruzarmos com critérios de alta rotatividade de venda.
Historicamente, essas características da operação de lojas físicas, em todos os segmentos de mercado, acabou gerando um modelo de "parada de sucessos" para praticamente todos os produtos: a oferta vai se reduzindo para alguns produtos que vendem melhor, que por sua vez vendem ainda melhor porque são os oferecidos na prateleira. Como nas rádios, onde algumas músicas são mais pedidas porque são mais tocadas e mais tocadas porque são mais pedidas.
Esse modelo concentrador é prejudicial ao consumidor que tem suas opções reduzidas à conveniência do lojista, ou à do programador da rádio ou canal de TV. Também não é bom para os fabricantes de produtos ou produtores de conteúdo audiovisual de nicho, ou iniciantes no mercado, porque é difícil para eles encontrar onde exibir e vender sua produção.
O e-commerce
As lojas virtuais conseguiram aumentar a variedade da oferta de produtos por poderem baixar muito o custo de exibição e estoque dos produtos. O show-room é só um site, mais barato que uma loja física e muito mais barato que uma cadeia de lojas e o estoque pode ir para endereços de baixo custo. Uma loja virtual não precisa ter suas camisetas esperando comprador a preço de aluguel de loja no shopping, elas podem esperar em um armazém em qualquer lugar.
Passa a existir o custo logístico do envio do armazém até o consumidor, mas a diferença no custo total de operação já permite incluir no catálogo produtos de menor volume de vendas.
Além disso, a demanda de uma loja física é limitada às pessoas que tem acesso à loja, geralmente em um raio de alguns quilômetros à sua volta. Na loja virtual, mesmo para produtos de demanda rarefeita, se somarmos a demanda espalhada pelo país inteiro (e em alguns casos pelo mundo inteiro) alguns produtos de nicho podem vender muito mais que um produto top vendido só no círculo de dez quilômetros de uma loja física. Mesmo que a loja esteja na metrópole mais densa.
A prateleira infinita
A possibilidade de aumentar o catálogo virtual em relação ao da loja física foi especialmente impactante no mercado de software - música, filmes, livros digitais, programas de TV, etc. - porque o custo de armazenamento e envio na Internet desses itens digitalizados caiu para praticamente zero.
Tirados da equação estes custos, os vendedores perceberam que a soma de um número pequeno de vendas de muitos itens poderia até superar o faturamento de alguns poucos itens de muito sucesso de vendas. Virar do avesso a dinâmica retroalimentada da parada de sucessos.
Esse fenômeno e o gráfico de vendas associado foi mencionado pela primeira vez como Long Tail ("cauda longa") pelo físico e escritor americano Chris Anderson em um artigo de 2004 com esse título na revista Wired e depois mais elaborado em um livro de sua autoria, de mesmo nome, em 2006. A ideia é que o gráfico lembra a longa cauda de um animal.
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