terça-feira, 23 de abril de 2019

Direto do mundo dos Jetsons: robô para dobrar suas roupas

Dobradora de roupas
FoldiMate
Embora os carros voadores ainda não tenham chegado, nem a robô doméstica Rosie que resolveria todas as nossas necessidades de trabalho em casa, alguns avanços sonhados na série de desenhos animados dos Jetsons estão chegando. Um deles é o de robôs para dobrar as roupas.

No primeiro mundo a maioria das casas não tem mais varal, apenas lavadoras e secadoras, até porque durante parte do ano se você puser a roupa molhada no quintal ela congela, não seca... Porém, depois de uma máquina lavar e outra secar, não tem jeito, um ser humano tem que dobrar a roupa para ser guardada. A ideia é automatizar essa etapa também.

O leitor mais atento talvez esteja pensando, e passar a roupa? Pois é prezado leitor, no primeiro mundo também muito pouca roupa é passada em casa, talvez um vestido antes de uma festa, mas o grosso - jeans, camisetas, moletons, roupa de baixo, etc. é direto da secadora para a gaveta. Mas tem que dobrar, até porque dado que não vai passar, tem que dobrar direitinho para não parecer amassada na hora de vestir.

Pelo menos duas empresas em fases diferentes de desenvolvimento começam a competir neste mercado de dobradura doméstica de roupas, FoldiMate e Panasonic (em parceria com a firma de design Seven Dreamers). A máquina da FoldiMate foi apresentada como protótipo e já abriu uma lista antecipada de vendas por preços em torno de US$ 1.000 e a da Panasonic já está a venda no Japão, por um preço muito caro de lançamento de US$ 14.000 - praticamente só um chamariz ou demonstrador de tecnologia - mas com a meta declarada de chegar num preço final de US$ 2.000 quando ganhar escala.

Parte da diferença brutal de preço é devido a abordagens diferentes do problema feitas pelas empresas. Enquanto a FoldiMate pressupõe um pouco mais de intervenção humana no pré-preparo e seleção da roupa a ser dobrada a Panasonic Laundroid recebe qualquer tipo de roupa em qualquer condição e via inteligência artificial descobre que peça é aquela (se é uma camisa ou uma calça por exemplo) e escolhe a dobradura adequada. Veja vídeos delas funcionando abaixo:

FoldiMate:
 
Panasonic Laundroid:


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quinta-feira, 11 de abril de 2019

A briga pelos algorítimos das redes sociais e de pesquisa

Como é que cada algoritmo de cada rede social ou mecanismo de pesquisas escolhe o que cada pessoa vai ver na Internet? Por que na minha tela aparece uma coisa e na sua outra? 
(Algoritmo nesse contexto é usado para se referir ao procedimento automatizado de sites e aplicativos que escolhe o que cada pessoa vai ver na sua tela quando usa aquele aplicativo ou site).

Exemplificando: quando eu ponho "notícias de Brasília" na caixa de pesquisa do Google, como é que ele escolhe o que ele vai me mostrar, e em que ordem de importância? As boas notícias? As más? Primeiro umas ou primeiro as outras? E se eu tivesse pesquisado "aborto", "eutanásia, "escola sem partido" ou qualquer outro tema polêmico, com quais critérios seria montada a lista de resposta?

Ou, quando eu entro no Facebook, das milhares de coisas publicadas por centenas de amigos, como ele escolhe a pequena parte que me mostra e em qual ordem? Ou ainda, quando eu estou assistindo um vídeo no YouTube, como ele escolhe a lista de vídeos que ele me oferece para assistir em seguida?

A Internet e a opinião pública

Não é preciso muita reflexão para perceber a influência que podem ter sobre a opinião pública esses procedimentos de filtragem e priorização de praticamente toda a informação que as pessoas acessam. Um sutil aumento da exibição ou oferta de notícias ou informações favoráveis ou contrárias a uma ideia, pessoa, serviço, produto ou instituição, podem esterçar a opinião pública a respeito.

Esses hipotéticos vieses, a favor ou contra alguma coisa, gerados pelos algoritmos das redes sociais e sites de pesquisa, se é que acontecem, poderiam ser causados intencionalmente pelo programadores de software que escrevem os algorítimos (ou pelos donos dessas empresas instruindo os programadores a fazê-lo), ou poderiam ser gerados não intencionalmente, por simples negligência, descaso ou erro.

As empresas envolvidas afirmam sua isenção política, econômica e social e seu cuidado com a neutralidade dos algorítimos, mas isso é difícil de verificar. Por razões técnicas e comerciais elas revelam apenas parte dos critérios que os algorítimos usam nas filtragens e priorizações.

O senado americano quer intervir
Preocupados com alguns aspectos dessa questão dos algoritmos dois senadores americanos acabaram de propor uma lei - chamada Algorithimic Accountability Act (Lei de Responsabilização pelos Algorítimos) - que, se aprovada, permitirá aos órgãos reguladores do governo americano analisarem e regularem os "os procedimentos automáticos de decisão" de sites e aplicativos usados pelos consumidores, para tentar identificar e controlar possíveis preconceitos, violações de privacidade e outros riscos

O que querem os autores da lei
Os senadores Democratas que apresentaram a lei declararam que sua motivação primária é impedir uma possível discriminação nos algoritmos que controlam a exibição de anúncios comercias. Sua exibição ou não poderia sofrer vieses preconceituosos, por exemplo os algoritmos não mostrarem um anúncio para uma pessoa por questões de raça, gênero ou condição social, o que poderia negar o acesso dessa pessoa a uma oportunidade de emprego, empréstimo ou moradia.

Em particular há uma preocupação entre os democratas e outras correntes de pensamento à esquerda do espectro político americano com o fato que os algoritmos que usam a chamada "Inteligência Artificial" monitoram e aprendem padrões de comportamento dos usuários da Internet e assim poderiam, em hipótese, transportar para dentro do algoritmo preconceitos das pessoas.

Para justificar sua preocupação os políticos mencionaram práticas comerciais preconceituosas anteriormente praticadas nos EUA, como por exemplo só anunciar um determinado condomínio residencial para determinadas pessoas, selecionadas por raça, renda, religião ou outros fatores. Uma prática conhecida como "steering" (direcionamento): não se pode proibir pessoas fora do público alvo de um determinado produto ou serviço de comprá-lo (o que seria ilegal) mas os anúncios não são mostrados para pessoas fora desse público e portanto elas não são estimuladas a comprar, ou nem ficam sabendo da sua existência.

Os republicanos também se preocupam

Nessa mesma questão dos algoritmos, vários políticos Republicanos já manifestaram preocupação com possíveis ataques à liberdade de expressão. Há denúncias que conteúdos de direita ou conservadores tenham sido "censurados" por algoritmos: conteúdo com esse viés ideológico apareceria para um número menor de pessoas e/ou iria para o fim da página. A prática até tem nome: "shadow banning". Em vez de banir completamente o conservador, o que daria muito na cara, ele só é posto na "sombra", mostrado ou ofertado menos.

Também há denúncias que algoritmos teriam desabilitado alguns conteúdos conservadores a receber dinheiro pelos acessos, alegando que conteriam "conteúdo impróprio" para anunciantes ou em violação de vagos termos de serviço. Essa prática também tem nome - "demonetization" (desmonetização). Se realizada, ela inviabilizaria economicamente os criadores de conteúdo que a rede social quer calar, sem ter que censurá-los abertamente.

Os Republicanos e outras correntes de pensamento à direita do espectro político americano já manifestaram em diversas ocasiões sua suspeita de que as pessoas do Vale do Silício possam estar calibrando os algoritmos das redes sociais para furtivamente censurar a direita e apoiar a esquerda. Essa região onde ficam as sedes das maiores empresas de Internet - e em particular sua elite - é majoritariamente democrata, à esquerda do espectro político americano.

Falar é fácil, provar é difícil
Essas supostas práticas de discriminação, censura e outras distorções nas redes sociais são difíceis de comprovar porque, contrariamente a um canal de TV ou jornal, em que todo o público vê a mesma coisa (então é fácil perceber se aquela TV ou aquele jornal são tendenciosos), nas redes sociais e nas pesquisas o que cada pessoa vê na sua tela pode ser diferente do que as outras pessoas veem nas telas delas.

Qualquer indivíduo ou mesmo grupo de indivíduos só sabe o que a rede social ou mecanismo de pesquisa mostrou para ele. Só quem sabe o agregado de tudo que foi mostrado para todas as pessoas e alguma possível distorção estatística nesse conjunto é a própria rede social ou mecanismo de pesquisa.

Colocando ordem na casa

Seja por motivos destros ou canhotos 😉, ou pelo simples bom senso de tentar diminuir as incertezas e suspeitas de quem usa a Internet, pode ser benéfico um maior conhecimento e controle da sociedade sobre os algoritmos das redes sociais, mecanismos de busca, grandes sites de compras e outros serviços de grande aceitação (a lei proposta no senado americano prevê atingir qualquer serviço de Internet que mantenha registro de mais de 1 milhão de usuários).

Hoje, todos os serviços de grande consumo, por exemplo água, energia, transportes ou telefonia estão sujeitos a fortes controles, fiscalização e regulamentação dos governos, visando proteger os indivíduos e a sociedade. Nos parece que alguns serviços da Internet estão começando a ocupar um papel tão essencial na vida cotidiana que também precisem de mais controle e regulamentação, similarmente a outros serviços básicos tradicionais.

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