terça-feira, 25 de setembro de 2018

5 tipos de Fake News - 5/5) A radicalização nas redes sociais

Uma distorção de como as pessoas formam sua visão da realidade é a "bolha" formada em sua volta pelas redes sociais. O que as redes mostram para cada pessoas é filtrado da Internet por elas: você só vê parte do que seus amigos e produtores de conteúdo publicam, só o que passa para dentro da bolha onde a rede social coloca você. Se essa filtragem não for muito cuidadosamente balanceada essa visão parcial pode distorcer a compreensão que a pessoa tem do todo e, na nossa opinião, pode ser enquadrado no fenômeno geral das Fake News - no viés que estamos abordando o assunto nessa série de posts.

Aparentemente as redes sociais tem feito um bom trabalho. Bilhões as usam todos os dias, alguns até compulsivamente, sendo atropelados, caindo em buracos ou batendo o carro, porque não conseguem se desgrudar da tela do celular. No entanto, esse próprio sucesso todo já sugere um questionamento: Por que é tão agradável usar as redes sociais? Por que as pessoas passam tanto tempo nelas e voltam com tanta frequência?

Há várias razões, porém, no que interessa para essa série de posts sobre Fake News, parte do sucesso das redes sociais é devido ao fato de elas mostram para cada pessoa o que ela mais gosta.  As redes sociais monitoram o engajamento - o grau de interação de cada pessoa com cada amigo, cada produtor e cada conteúdo: quanto tempo ela fica vendo cada post, se compartilha, se dá like, se dá play naquele vídeo ou se ignora etc. Conforme vão aprendendo sobre a pessoa vão aumentando a dose daquilo que a pessoa se engaja - ou seja do que ela gosta - e diminuindo a dose do que ela não se engaja - ou seja não gosta.

Então se você gosta de vídeos de gatinho fofo fazendo estripulias, ou de ciclismo, ou de artesanato, ou seja o que for, as redes sociais vão oferecendo mais disso para você. O autor de cada conteúdo também entra na equação, então se você gosta mais do que o João publica do o que o José publica, você vai ver cada vez mais posts do João e menos do José. Por outro lado, se você nunca clica no play de vídeos de automobilismo, nunca compartilha posts de automobilismo, nunca dá like em posts de automobilismo, a rede vai diminuindo até parar de oferecer conteúdo de automobilismo para você.

E aí mora o perigo. No objetivo de sempre agradar você, as redes sociais fazem isso com todos os conteúdos, incluindo notícias e conteúdos de opinião política ou social. Quando você encontra nas redes sociais conteúdo que tem a mesma posição que você sobre um assunto político, social ou econômico, você se engaja mais do que com os que tem a posição contrária. Quando você encontra um amigo ou produtor de conteúdo que posta mensagens ou vídeos que defendem ideias parecidas com as suas você também se engaja mais. Afinal é agradável assistir o vídeo ou ler ou post do cara que fala a favor do que você já acredita e desagradável ser contrariado.

As redes sociais estão monitorando isso tudo, do mesmo jeito que monitoram quando você assiste vídeo de gatinho. Os computadores nunca descansam e nunca se esquecem... E vão cada vez mais oferecendo posts e vídeos que apoiam o seu ponto de vista e cada vez menos os que o contrariam. Mesmo que tudo o que você visse fosse verdadeiro, esse conteúdo filtrado pelo seu engajamento prévio pode construir uma versão parcial da realidade, que podemos enquadrar no fenômeno geral das Fake News - porque pode filtrar notícias e opiniões desagradáveis para você, porém verdadeiras.

Essa visão parcial tende a radicalizar as posições políticas, a gerar uma ainda maior intolerância com o contraditório. Se o tempo inteiro você só vê opiniões que concordam com a sua quando por acaso você tromba com uma contrária a tendência é o rancor, o ressentimento e até a vontade de querer calar aquela voz dissonante.


Esse é nosso 5º e último post da série sobre Fake News -  distorções na criação e distribuição e notícias e informações na Internet que podem prejudicar a visão das pessoas sobre o mundo.