terça-feira, 11 de setembro de 2018

5 tipos de Fake News - 4/5) Os Hackers

Os hackers - programadores de computador mal intencionados - que, entre outras pilantragens, constroem programas de computador para afetar a influência das redes sociais sobre as pessoas, é o assunto desse nosso quarto post da série sobre Fake News - a manipulação da criação e distribuição de notícias na Internet que podem distorcer sua visão do mundo.

Papai, como vocês viviam sem a Internet?
Durante os mais ou menos 4 milhões de anos de existência dos hominídeos, contando aí os 100 ou 150 mil últimos anos dos já homo sapiens, nós vivemos em pequenas tribos de não mais que algumas centenas de pessoas, sem nenhum acesso à informação além daquilo que víamos com os nossos próprios olhos e aquilo que os outros membros da tribo nos contavam.

Durante todo esse tempo formativo do que somos hoje, se vários membros da tribo me dissessem para não entrar naquela caverna porque lá mora uma onça, era melhor eu confiar nessa informação. Claro, sempre houve os desconfiados que faziam a questão de ir lá conferir e morriam comidos pela onça.... e esses deixaram menos (ou zero) descendentes porque morriam mais cedo. É, a evolução tem um jeitinho meio duro de ensinar às espécies o melhor a fazer em cada situação.

Nossos cérebros portanto evoluíram para funcionar bem neste ambiente: pequenos grupos onde a confirmação (ou negação) social das informações é valiosíssima, questão de vida ou morte. Porém, de repente (em termos evolutivos), em 5.000 anos nós criamos a agricultura, a escrita, passamos a viver em cidades, criamos o método científico, a eletrônica... e em menos de 50 anos passamos de um mundo onde era difícil de se fazer um telefonema interurbano para uma conexão instantânea por voz, texto e imagem de bilhões de pessoas: a Internet, as redes sociais... E nesse rápido processo, trouxemos mais ou menos o mesmo cérebro tribal de nossos antepassados.


Na Internet ninguém sabe que você é um cachorro
A Internet e em particular a World Wide Web, o pedaço da Internet onde normalmente navegamos, foi criada com um tamanho e uma abrangência muito menores do que tem hoje. Na época, Tim Berners-Lee (que é o cientista de computação inglês que escreveu as especificações da WEB em 1989 e é reconhecido internacionalmente como o "pai" da WWW) quis enfatizar uma certa democratização e universalização do acesso às informações para quem se conectasse à rede e não se preocupou muito com a questões de segurança, em particular com a questão da identidade de quem estava se conectando.

Essa orientação mais para a praticidade que para a segurança foi muito útil para o crescimento exponencial que a Internet experimentou nos anos seguintes, afinal qualquer esquema rigoroso de segurança atrapalharia e encareceria a vida dos usuários comuns, na sua maioria bem intencionados.

Porém, essa facilidade de acesso embutida na própria filosofia da Web criou um problema ainda não totalmente resolvido até hoje, de identidade. Por exemplo, programas de correio como Gmail ou Hotmail ou redes sociais como Facebook ou Instagram, não tem um controle rigoroso na criação de perfis, se você é mesmo quem está falando que é, bem como não controlam se você já criou 3, 4 ou 10 contas diferentes. Claro que algumas aplicações de maior risco, como as bancárias, criaram mecanismos próprios de proteção em cima da estrutura básica da Web, mas a maioria das aplicações não é assim segura.

Já em 1993, o cartunista Peter Steiner da revista The New Yorker publicou um cartum, hoje clássico, onde um cachorro digitando no teclado de um computador fala para outro, que estava olhando intrigado para ele: Na Internet ninguém sabe que você é um cachorro.

Os hackers só juntaram a gasolina com o fogo
Juntando esses dois fatos, que a gente confia mais no que as outras pessoas confirmam e que a Internet, de maneira geral,  não tem um controle muito rigoroso da identidade de quem se conecta a ela, há pessoas mal intencionadas que usam isso para promover nas redes sociais produtos, políticos, causas, ou seja o que for, criando muitos perfis falsos para com eles fazer crescer artificialmente o número de seguidores, compartilhamentos e likes daquilo que querem promover.

Isso pode ser feito manualmente, um grupo de pessoas com perfis falsos clicando, mas é muito trabalhoso. Mais comumente os hackers escrevem programas de computador que se comportam como se fossem pessoas - robôs de software - para ficar seguindo, compartilhando e likando de maneira  a ajudar quem os pagam. A pessoa desavisada, ao ver que uma determinada informação foi muito compartilhada ou recebeu muitos likes e curtidas, tende a pensar quase automaticamente que aquela informação é relevante e verdadeira, mesmo que não o seja.

Próximo post da série: 5 tipos de fake news 5/5) A Radicalização das Redes Sociais

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