quinta-feira, 28 de junho de 2018

Esqueça o apocalipse dos zumbis. Perigo é o apocalipse dos empregos.

Na nossa opinião é pequeno o risco de algum defunto levantar e sair correndo atrás de você. Se você quer preocupação, deveria olhar o quadro atual da automação e da robótica.

Holywood previu errado
Muitos filmes e séries de TV se dedicam a um imaginário apocalipse zumbi. Geralmente uma experiência dos maldosos cientistas militares dá errado e, ao invés de criar super-soldados, transforma as pessoas em zumbis comedores de gente. Assustam muita gente as cenas de mortos-vivos semidecompostos, perseguindo os poucos humanos restantes na Terra devastada.

No entanto, na opinião deste que vos escreve, é bastante pequeno o risco de no mundo real uma horda de mortos-vivos tentar lhe devorar. É em outros lugares que mora o perigo.

Quem, eu me preocupar?
Se você procura cenários apocalípticos, onde  nosso modo de vida é virado do avesso com grandes consequências políticas e sociais, talvez você devesse prestar mais atenção no que está acontecendo na automação e na robótica.

Indo direto ao ponto, os empregos estão sendo paulatinamente substituídos por máquinas, gerando um desemprego estrutural , que não diminui quando a economia melhora. Historicamente, lidamos com o desemprego de ciclo econômico - as pessoas são demitidas na recessão, mas recontratadas quando a economia volta a crescer. 

Hoje, o desemprego estrutural provocado pela automação, computação e robótica é muito mais grave. A posição de trabalho substituída por uma máquina simplesmente deixa de existir para sempre, a economia esteja bem ou mal.

Cebola, picles e molho especial em um pão com gergelim
No começo, só algumas funções muito repetitivas ou demandantes de muita força e precisão foram substituídos por robôs, como por exemplo os robôs soldadores em fábricas de carros, que demitiram metalúrgicos. Hoje, a cada dia, mais e mais funções vão sendo assumidas pela automação. 

A última novidade nesse campo foi mostrada em vários sites de notícias americanos: uma máquina que substitui o cozinheiro nas cadeias de fast-food. A startup Momentum Machines, que recebeu investimentos da Google, já apresentou protótipos da máquina que corta o pão, frita a carne e monta o sanduíche com os recheios e molhos solicitados pelo cliente.
Momentum Machines /
Wharton University
of Pennsylvania

Uma máquina cozinhar e preparar um hambúrguer pode não impressionar à primeira vista, mas esse caso de substituição de homem por máquina é especialmente emblemático. As cadeias de fast-food são um grande empregador e absorveram muito da mão de obra que antes ia para as fábricas. 

Já há algum tempo os atendentes nos caixas destas lanchonetes vem sendo trocados por terminais de auto-atendimento e, com as máquinas da Momentum, os cozinheiros podem perder o emprego também.

Calma, é só ensinar todo mundo a programar em Python
Os otimistas gostam de lembrar que o avanço tecnológico também cria novas profissões, o que é verdade. 

Porém, infelizmente, os milhões de caixas e balconistas de loja substituídos por e-commerce não vão  todos eles conseguir se empregar como programadores de videogame. Os milhões de motoristas que vão ser desempregados pelos carros e caminhões autônomos, hoje em fase de testes, não vão todos, da noite para o dia, virar analistas de Big Data.

A substituição do homem pela máquina não acontece na mesma intensidade em todas as profissões, mas o efeito somado da automação em muitas áreas é perverso: cada vez mais pessoas não vão conseguir trabalho, não porque não querem, mas porque  máquinas fazem melhor, mais rápido e mais barato o que elas são capazes de fazer.  

Para a sociedade, saldo final do avanço tecnológico sobre o emprego é quase sempre negativo.

Renda mínima
No primeiro mundo, alguns economistas e políticos já dizem que os mecanismos atuais de assistência social são insuficientes para lidar com o problema e que seria hora de começar a pensar na criação de uma UBI (Universal Basic Income): uma renda mínima que seria paga indiscriminadamente à toda a população.

No entanto, mesmo que a polêmica ideia da UBI seja aceita pela sociedade, é no mínimo preocupante o cenário de um futuro dividido entre elites afluentes que tenham trabalho e do outro lado milhões de desempregados permanentes, vivendo de uma espécie de bolsa-família. Mesmo que seja um bolsa-família gordo, lá no primeiro mundo. As questões práticas, psicológicas, políticas e éticas são tremendas.

 A humanidade vai conseguir fazer sem solavancos a transição para esse mundo de poucos empregos? Confesso que o apocalipse dos empregos me tira mais o sono que o dos zumbis.....